sexta-feira, setembro 09, 2005

Roberto Zucco na UFRGS



É bom ver quendo um diretor, um aluno diretor criando carne e reflexão sobre a matéria teatral. E a gente vê isso acompanhando o trabalho do cara, percebendo como ele reflete sobre o espaço, como ele lida com as dificuldades oferecidas pelos textos que ele monta, como ele trabalha com os atores, como tempo, ritmo e emoção são desenvolvidos nas cenas. Pois bem, vi ontem Roberto Zucco, texto de Bernard Marie Coltès com direção de Felipe Vieira, trabalho do Departamento de Arte Dramática da UFRGS e posso dizer, o Felipe cada vez mais ta criando carne e pensamento sobre teatro, matéria de pôr-em-cena "mis-en-scene".
Seu trabalho anterior "Dois Perdidos numa noite suja", texto de plínio Marcos foi muito interesante, Felipe se concentrou na cosntrução de personagens fortes, de atores sabendo o que estavam afzendo e dizendo e por isso, muito à vontade em cena. A peça era recheada de violência física e psiquica, coisa difícel de se fazer em cena com organicidade, e sim, era orgânico. Ponto contra eram as marcas, muitas vezes simples demais, não sei se foi falta de reflexão sobre a relação das tensões que o drama cria em função ao uso do corpo-espaço, ou se felipe resolveu apostar mais no sangue que em uma direção mais cerebrina, mas muitas vezes nós só tínhamos os personagens naquela espaço circular, uma verdadeira arena de galos de rinha, se embatendo sem mais relações espaciais diferentes que pudessem iluminar para o espectador o que está acontecendo ali em termos de conflito dos eprsonagens. Mas contudo a peça falava, e falava bem.
Roberto Zucco, na minha modesta opinião, é um avanço em termos de entendimento das capacidades infinitas e mágicas que o palco nú é capaz de trazer. Percebendo a fragamentação espacial e temporal que o texto de Coltes oferece, Felipe optou por um palco vazio, delimitado na rotunda com uma grande cerca de arame. Metáfora da peça: o homem preso que se rebela. Um prisioneiro que sempre escapa, que mata mãe e pai e mata que vier pela frente, mata oq ue geralemnte nos mata, a repressão familiar, a repressão doe stado e a repressão social. E que no final e presonovamente e escapa, só que desta vez buscando o sol.
Coltez tece um texto lindo: quem é que está preso? nós seres conuns? ou Zucco, que busca o sonho "as montanhas geladas da áfrica, ou o sexo do sol". Poisé, Felipe entende esta reflexão e constroi espacialmente e corporalemnte esta metáfora que, estando apenas no reino das palavras é conceito. Mas teatro não é conceito, é materialidade, sonho compartilhado, é carnatura.
As marcas são muito eficientes, revelam as tensões dos personagens, sugerem os espaços que se alteram cena a cena, sem o uso de artifícios banais, uma luz bem colocada e os corpos dos atores, pra mim isso basta, e é isso que temos em cena, com a tulilização esporádica de uns bancos, uma mesa e uma cadeira. Só.
Agora o grande pecado da peça é o trabalho de energia e entendimentodo texto por parte dos atores. Sinceramente a maioria do elenco está no nível apenas médio. Digo em termos do "estar em cena", falta energia, foco para esta energia, texto justificado por um entendimento profundo e visceral. O ator que faz o protagonista, MAico,parece não saber oq ue está dizendo em muitos momentos, e me mostra um Zucco frágil, não senhores, Zucco não é frágil, Zucco é uma besta assassina em busca de liberdade, Zucco é um homem que transpira testosterona por todos os poros, um matador alucinado. Mas em cena só vejo o ator, tentando, mas sem me convencer, vejo o garoto-ator, não o homem personagem. Será que falta um entendimento maior do que significa estar PERPLEXO frente à realidade? Não sei, o ator não precisa passar pelo que o pesonagem passa, mas precisa ativas as energias em si que sejam análogas as do personagem. E isso falta em quase todos. Entendimento do texto e a corporificação e energisação do quee stá sendo dito-vivido. Felipe deveria se concentrar um pouco mais neste trabalho de visceralidade.
Mas em termos de interpretações temos duas belas supresa, MAriana Montovani e A Fernanda Mandagará que respectivamente fazer a irmã meio lésbica e a senhora chique. Porra, A Montovani sacou a "sapatice" introjetada da irmã e investiu não em um esteriótipo masculino, não, ele vai numa energia contida e dura, talvez estas sejam aa palavras: dureza e força. O monólogo que ela dá sobre o cheiro dos homens é bem bonito, percebemos a curva dramática claramente, é cheio de entrega, vindo das tripas. Já a fernanda constrói uma senhora elegante muito engraçda, que passa do total despreso por tudo e todos ao desespero e uma libido à flor da pele. A cena onde ela xinga as pessoas que a tentam salvar numa estação de trem é impagável, e seu pequeno bife onde ela reflete sobre a posse do sangue do filho tmbm é um momento delicioso de ver.
Como Zucco mata a família, um guarda e o filho da socialite, nós criadores de teatro temos que astar sempre nos matando, matando velhas formas para que possamos renascer a cada trabalho dando continuidade a este ofício, esta tradição que é quase um sacerdócio.
Parabens para a equipe e parabéns ao diretor, um bom espetáculo, inteligente e íntegro.
ahh a foto é do Coltes, gato não? Ams tire o cavlod a chuva pois ele morreu faz uns anos, no final dos 80, vitimado pelo HIV, merda né?

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro João.
É muito bom poder ouvir críticas dos colegas de trabalho, principalmente quando se faz tão pouca crítica teatral aqui em Porto Alegre. Isso nos acrescenta coisas, faz com que possamos refletir sobre nosso trabalho perante o olhar de quem está fora do processo, e pode nos apontar coisas novas que podem passar batidas na criação, porque existe sempre uma explosão de coisas dentro do processo criativo que nem sempre conseguimos conectar. O único fato que gostaria de argumentar de maneira contrária a sua crítica, e aí é uma questão de opinião, ou num sentido mais teatral, de concepção, é em relação ao personagem Roberto Zucco. Não concordo quando dizes que não há entendimento do texto, porque este passou por uma concepção de personagem a qual eu não vejo como um assassino puro e simples, não vejo em Zucco um monstro cheio de testosterona... eu sempre pensei nele como um jovem que mata por que isto está presente na sua natureza, uma natureza humana que é terrível mas sem um julgamento moral... Koltés afirma que a única moral possível é a beleza, a beleza que está presente nas contradições das ações humanas, a beleza terrível que há em um jovem que todos afirmam parecer tão doce, bonito, tranquilo, mas que mata, e esta ação inexorável da fim a vida, dá fim ao humano, mas isto é normal a ele, Zucco. Koltés também diz que em cada foto que viu do homem real, Roberto Succo, ele parecia um, e creio que ele tenta transpor isto no texto através da contradição, através de que em cada momento do texto, assim como na vida temos atitudes diversas... a viceralidade está presente nas ações dele porque ele age perante a inércia assassina do cotidiano, e é esse cotididiano, essa natureza humana tão cruel e viceral na sua normalidade é o que optamos como grupo seguir na nossa montagem, em todos os personagens, especialmente em Zucco... buscamos a empatia para que o horror pudesse se estabelecer de maneira mais próxima das pessoas enquanto espectadores, não fizemos julgamento moral das ações das personagens, queríamos apenas fazer as ações porque é isto que tinhamos de concreto na beleza do texto, é isto que entendemos como belo nas palavras de Koltès...
não sei se alcançamos nosso objetivo, espero apenas ter tocado um pouco as pessoas, sendo elas poucas ou muitas, ter falado um pouquinho deste humano naturalmente terrível para que se possa refletir um pouco sobre essa humanidade... sei apenas que a nós mesmos, como grupo, e um grupo de 10 atores maravilhosamente engajado como este foi durante todo o processo, refletiu, sentiu e se apaixonou pelo que estavavamos fazendo e dizendo, que as palavras desse brilhante autor que é Bernard-Marie Koltès nos tocou profundamente na sua cruel beleza. E isto me deixa extremamente satisfeito, mas não omisso com o resultado final. Há ainda muitas coisas a serem descobertas e desenvolvidas, às quais eu sinto instintivamente mas ainda não sei como alcançá-las. Espero poder prosseguir com o trabalho para podermos encontrá-las, melhorando a cada dia.
Espero também que possamos conversar mais pessoalmente sobre estas questões que foram levantadas, acho importante diferentes visões, porque esta pluralidade de concepções, tanto em relação ao teatro como na vida, porque o teatro precisa ter vida, é importantíssima para o intercâmbio de idéias, para não continuarmos sendo massificados dentro de nosso cotidiano.
Um abraço!
Felipe Vieira