Parte um: Brooklyn Bridge.
Aquela veia teimava em bater justamente na testa de Giovanni.
– Isso significa medo, ele pensou.
Por mais que estivesse em um grande centro que já foi um inferno mas agora, devido a radicalidade de um novo prefeito as coisas andavam mais calmas. Pelo menos era o que os noticiários transmitiam à população de NY e do mundo.
-Estar acompanhado, estar acompanhado, ele pensou, por estes meus dois amigos, Pedro, produtor e Anna, atriz, é o mesmo que estar sozinho.
Ele sabia que, mesmo acompanhado e com o programa de “intolerância total” que agora regulava as políticas de ataque e prevenção ao crime na cidade, andam pelos arredores da ponte do Brooklyn continuava a ser suicida. Ainda mais que a noite já havia caído e o inverno estava no seu apogeu, nada de neve, apenas tudo congelado, a cerração densa, branca, perfeita.
-Se nos atacarem aqui estamos fritos, somos ilegais nesta merda de país, a Anna e o Pedro não falam uma pica de inglês, eu falo o suficiente para pedir um Big Mac no máximo. Quando eu peço um lanche as negrinhas me olham apavoradas no balcão e não entendem que eu quero um BIG MAC COM BASTANTE MAIONESE!, Não, elas pensam que eu sou francês, mas sou BRASILEIRO!
A veia continuava o seu trabalho de marcar com pulsações o nervosismo de Giovanni, e seus amigos estavam lá também, caminhando junto, um pouco perto demais dele, um pouco se olhando demais e um pouco rindo demais.
- Era o que me faltava, estes dois estão de treta.
E seguiu caminhando a passos rápidos. Tinham que ir no teatro, atravessar a cidade para chegar na Broadway e ver “O Produtor” novo musical de Mel Brooks que tava bombando. Ana falou:
- tu tem certeza que a peça está em cartaz? Não sei quem me falou que o Mel Brooks morreu semana passada, e ele além de dirigir e atuar era o produtor do espetáculo. O Top produtor, como tu gosta de dizer.
– Não Anna, Giovanni respondeu, não, ele não está morto, ele está vivo ebem, esta ganhando fortunas com este musical. Era tudo o que eu queria, ganhar MUITA grana com o nosso trabalho. Pedro que estava calado até então disse meio rude:
- cara te liga, aqui é que não vamos ganhar dinheiro nunca. Aqui neste país seremos eternos lavadores de pratos, se dermos sorte lavaremos os pratos do Mel Brooks um dia, estando ele morto ou vivo. E Pedro agarrou Giovanni pelo pescoço enquanto o segurava Anna revistava os seus bolsos. Giovanni gritou:
- que merda é essa heim? Que merda é essa? E os dois amigos traidores saíram correndo a toda, levando os documentos e o dinheiro contado de Giovanni para entrar no musical.
- Ai que porra! Não, só comigo para acontecer uma merda destas! Eu já fumei toneladas de maconha com eles, trabalhamos juntos faz anos!Por que isso? O que estes merdas fizeram? Só pode ser uma piada. ai que vontade de pegar um martelo e arrebentar com a cabeça dos dois! E depois atropelar eles com um caminhão. PORRA!
Continuou caminhando meio sem rumo meio com. Ia quase que involuntariamente em direção à Broadway. Queria pelo menos ver as luzes, mesmo tarde da noite lá está sempre cheio de gente, a impressão que dá é que lá NY realmente nunca dorme. E foi. E caminhou. E caminhou. E depois de muito tempo, suado dentro do casacão, virou uma esquina e viu: BROADWAY. Como brilhava meu deus. Como brilha! Telões de anúncios gigantes mostravam o que todos deveriam ter. As lampadinhas dos letreiros dos teatros piscavam. O Mc Donalds da Broadway nunca fecha! É eterno.
Chegou na entrada do teatro e viu o grande letreiro: “THE PRODUCER”.
- Não custa entrar ele pensou, pelo menos para ver as fotos, ver as pessoas.
Entrou, pouca gente, o teatro na verdade era de um luxo desgastado pelo tempo. Dourado e descascado, muito dourado e veludo cor de vinho.
- Isso significa luxo para estes provincianos, pensou. Mas não deixa de ter certo charme.
Uma pequena fila estava formada na bilheteria, chegou mais perto para ver. Alguém toca em seu ombro. Uma voz de velho fala no seu ouvido: -Tu é o Giovanni né?
Virou e viu um cara já meio velho de óculos de aro grosso, fumando um cigarro, com um sobretudo de couro e uma echarpe violeta enrolada no pescoço. Mas não fazia idéia de quem ele era.
O velho disse: eu te conheço mas tu não me conhece, já vi algumas peças tuas em Porto Alegre, gostei de algumas, outras achei... um pouco inteligentes demais, pra não dizer, pretensiosas.
E ambos riram.
O velho pediu: eu, apesar de estar aqui faz tempo, uns três anos , ainda não falo uma letra em inglês, tu poderia comprar uma entrada pra mim.
Giovanni respondeu com um sim com a cabeça e o velho emendou: tu já comprou a tua?Ele respondeu que não, que não havia comprado, que tinha vivido uma história absurda até ali, que seus amigos eram traidores do caralho, que ele estava com raiva e não saia muito bem como agir, o velho disse, compra uma pra ti e uma pra mim, e programas para ambos. Giovani pegou o dinheiro, comprou, entraram no teatro.
Aquela veia teimava em bater justamente na testa de Giovanni.
– Isso significa medo, ele pensou.
Por mais que estivesse em um grande centro que já foi um inferno mas agora, devido a radicalidade de um novo prefeito as coisas andavam mais calmas. Pelo menos era o que os noticiários transmitiam à população de NY e do mundo.
-Estar acompanhado, estar acompanhado, ele pensou, por estes meus dois amigos, Pedro, produtor e Anna, atriz, é o mesmo que estar sozinho.
Ele sabia que, mesmo acompanhado e com o programa de “intolerância total” que agora regulava as políticas de ataque e prevenção ao crime na cidade, andam pelos arredores da ponte do Brooklyn continuava a ser suicida. Ainda mais que a noite já havia caído e o inverno estava no seu apogeu, nada de neve, apenas tudo congelado, a cerração densa, branca, perfeita.
-Se nos atacarem aqui estamos fritos, somos ilegais nesta merda de país, a Anna e o Pedro não falam uma pica de inglês, eu falo o suficiente para pedir um Big Mac no máximo. Quando eu peço um lanche as negrinhas me olham apavoradas no balcão e não entendem que eu quero um BIG MAC COM BASTANTE MAIONESE!, Não, elas pensam que eu sou francês, mas sou BRASILEIRO!
A veia continuava o seu trabalho de marcar com pulsações o nervosismo de Giovanni, e seus amigos estavam lá também, caminhando junto, um pouco perto demais dele, um pouco se olhando demais e um pouco rindo demais.
- Era o que me faltava, estes dois estão de treta.
E seguiu caminhando a passos rápidos. Tinham que ir no teatro, atravessar a cidade para chegar na Broadway e ver “O Produtor” novo musical de Mel Brooks que tava bombando. Ana falou:
- tu tem certeza que a peça está em cartaz? Não sei quem me falou que o Mel Brooks morreu semana passada, e ele além de dirigir e atuar era o produtor do espetáculo. O Top produtor, como tu gosta de dizer.
– Não Anna, Giovanni respondeu, não, ele não está morto, ele está vivo ebem, esta ganhando fortunas com este musical. Era tudo o que eu queria, ganhar MUITA grana com o nosso trabalho. Pedro que estava calado até então disse meio rude:
- cara te liga, aqui é que não vamos ganhar dinheiro nunca. Aqui neste país seremos eternos lavadores de pratos, se dermos sorte lavaremos os pratos do Mel Brooks um dia, estando ele morto ou vivo. E Pedro agarrou Giovanni pelo pescoço enquanto o segurava Anna revistava os seus bolsos. Giovanni gritou:
- que merda é essa heim? Que merda é essa? E os dois amigos traidores saíram correndo a toda, levando os documentos e o dinheiro contado de Giovanni para entrar no musical.
- Ai que porra! Não, só comigo para acontecer uma merda destas! Eu já fumei toneladas de maconha com eles, trabalhamos juntos faz anos!Por que isso? O que estes merdas fizeram? Só pode ser uma piada. ai que vontade de pegar um martelo e arrebentar com a cabeça dos dois! E depois atropelar eles com um caminhão. PORRA!
Continuou caminhando meio sem rumo meio com. Ia quase que involuntariamente em direção à Broadway. Queria pelo menos ver as luzes, mesmo tarde da noite lá está sempre cheio de gente, a impressão que dá é que lá NY realmente nunca dorme. E foi. E caminhou. E caminhou. E depois de muito tempo, suado dentro do casacão, virou uma esquina e viu: BROADWAY. Como brilhava meu deus. Como brilha! Telões de anúncios gigantes mostravam o que todos deveriam ter. As lampadinhas dos letreiros dos teatros piscavam. O Mc Donalds da Broadway nunca fecha! É eterno.
Chegou na entrada do teatro e viu o grande letreiro: “THE PRODUCER”.
- Não custa entrar ele pensou, pelo menos para ver as fotos, ver as pessoas.
Entrou, pouca gente, o teatro na verdade era de um luxo desgastado pelo tempo. Dourado e descascado, muito dourado e veludo cor de vinho.
- Isso significa luxo para estes provincianos, pensou. Mas não deixa de ter certo charme.
Uma pequena fila estava formada na bilheteria, chegou mais perto para ver. Alguém toca em seu ombro. Uma voz de velho fala no seu ouvido: -Tu é o Giovanni né?
Virou e viu um cara já meio velho de óculos de aro grosso, fumando um cigarro, com um sobretudo de couro e uma echarpe violeta enrolada no pescoço. Mas não fazia idéia de quem ele era.
O velho disse: eu te conheço mas tu não me conhece, já vi algumas peças tuas em Porto Alegre, gostei de algumas, outras achei... um pouco inteligentes demais, pra não dizer, pretensiosas.
E ambos riram.
O velho pediu: eu, apesar de estar aqui faz tempo, uns três anos , ainda não falo uma letra em inglês, tu poderia comprar uma entrada pra mim.
Giovanni respondeu com um sim com a cabeça e o velho emendou: tu já comprou a tua?Ele respondeu que não, que não havia comprado, que tinha vivido uma história absurda até ali, que seus amigos eram traidores do caralho, que ele estava com raiva e não saia muito bem como agir, o velho disse, compra uma pra ti e uma pra mim, e programas para ambos. Giovani pegou o dinheiro, comprou, entraram no teatro.