quinta-feira, maio 15, 2008

Casulo Número DOIS Cinema íntimo

"Somos os propositores,
somos o molde,
a vocês cabe o sopro,
no interior desse molde:
o sentido da nossa existência.

Somos os propositores:
nossa proposição é o diálogo.
Sós, não existimos; estamos a vosso dispor.

Somos os propositores:
enterramos a obra de arte como tal
e solicitamos a vocês para que
o pensamento viva pela ação.

Somos os propositores:
não lhes propomos nem o passado,
nem o futuro, mas o agora."

Lygia Clark, 1968

Casulo Número Dois: Cinema Íntimo explodiu como ação no dia de ontem, quarta feira, ao anoitecer, como é de praxe. Esse casulo se forma e arrebenta um um momento íntimo conturbado, momento também de namoro com o pensamento vivíssimo da artista Lygia Clark e a mistura disso com o que vem acontecendo intelectual-afetiva-corporalmente até aqui. O Estudo sistemático sobre a performance art. O Corpo sem òrgãos como magnetizador constante das ações. Casulo número dois foi realizado no meu quarto, na frente do meu altar pessoal. Essa é uma ação íntima e também mais um corte-aprendizado dentro do Coletivo Arquipélago pois assim é a idéia: as ações mesmo individuais vão crescendo dentro do corpo do coletivo e vive-versa. A Isabela sempre junto criando comigo esse corpo agenciamento. Fiz esse casulo como um ritual pessoal, desdobrei meu cotidiano em um campo estético que reverberou profundamente em mim e agora lanço essa documentação para que de alguma forma ele ainda reverbere como ação possível minha, e de quem quiser fazê-la.


TAREFA:
Trasformar seu quarto num casulo com filme plático.
Despido, cobrir-se com leite condensado (lembrei-me da Márcia X)
Pintar os dentes com baton vermelho.
Misturar-se com os plásticos
Sair do casulo.

A ação foi documentada por centenas de frames tirados pela webcam pela Isa e pelo Patrick.

OS frames agora foram editados e dialogam com outra proposição que venho realizando que são os "outros cinemas".
Estes outros cinemas são reverberações da mesma chama que acende meu trabalho atual. A Performance Art. Para criar um campo de arte, basta propror. "Denken Ist Plastik" nos lembra Beuys, " enterramos a obra de arte como tal
e solicitamos a vocês para que o pensamento viva pela ação" arremata Clark. Cinema sem câmera e sem movimento. Documentação pessoal. Performance art. Cinema com câmera e movimento privados, íntimos, mais uma reverberação de alguém que não vê o casulo como fetiche, mas que mergulha na potência de mutação.

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Meu documento íntimo: máscara molhada do nebulizador quando eu tenho falta de ar. e eu to sempre precisando usar a máquina molhada que me faz respirar. eu gosto quando nos filmes aparece a neblina. gosto de abrir as janelas de madrugada para ver a neblina silenciosa tomando conta de tudo. alaranjada e viva.
montar um teatrinho dentro do quarto. meus irmãos. e eu deitados no chão semi tapados com os cobertores, braço de um perna do outro cabeça saindo pra fora, e a maquininha do nebulizador ligada, trazendo neblina minha para o quarto.

a criação passa por esse espaço onde eu já não sei mais o que é memória, o que é invenção ou o que é sonho. borda líquida. paisagens afetivas. redimensionamento e atualização constante.

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