Foi no "Bar da Coxinha", depois de muita conversa sobre arte e essas coisas que nos entopem as veias da alma, que a Ariana falau de cabeça um fragmentozinho de "A Passagem das Horas" do Fernando Pessoa.
Confesso que na hora aquilo me bateu super profundamente pois me sinto um pouco assim, depois de 12 anos de estrada na arte do teatro e na arte em geral, me sinto perdido, fazendo meu pré projeto de mestrado sem ao menos saber o por que de eu ter cehagdo até aqui, desse invetimento todo, num environment de capitalismo tardio brazuca que clama por produtos e onde o cidadão trasformou-se em consumidor. Trabalhar aqui com conceitos nebulosos, idéias passeantes e a efêmera arte do espetáculo que , vamos ser sinceros, tá longe do entrar na máquina do mainstream, só aumentam minha perplexidade. Que futuro aguarda o "fazedor de teatro" em menção a bela peça de Thomas Bernhard? O sedutor devir de outras formas de mediocridade mais rentáveis estão sempre a espreita. E assim me reaparece Pessoa, no trecho que a garota citou, e eu procurei no google e estava lá, inteirinho e lindo, pra vcs um petisco lusitano melhor que pastel de belém:
A Passagem das Horas, FRAGMENTO:
..."A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,Desta entrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas,Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,Deste desassossego no fundo de todos os cálices,Desta angústia no fundo de todos os prazeres,Desta sociedade antecipada na asa de todas as chávenas,Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.Não sei se sinto de mais ou de menos, não seiSe me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,Consangüinidade com o mistério das coisas, choqueAos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.Seja o que for, era melhor não ter nascido,Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.Não sei se sinto de mais ou de menos, não seiSe me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,Consangüinidade com o mistério das coisas, choqueAos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.Seja o que for, era melhor não ter nascido,Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sairPara fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida"...
Nenhum comentário:
Postar um comentário