segunda-feira, dezembro 22, 2008

Comentário publicado na Zero Hora e no Blogue do Renato Mendonça, muito legal!

Lisandro Bellotto e Sissi Venturin em "Teresa e o Aquário",
foto de Marcos Nagelstein

Mergulho na memória

Foi um sábado de surpresas no Theatro São Pedro. A primeira delas, desagradável, foi o atraso de mais de uma hora na apresentação da montagem Teresa e o Aquário, algo inédito para os padrões de pontualidade da casa comandada por Eva Sopher. A razão foi um desfile de modas que precedia a peça.

A segunda surpresa, agradibilíssima, foi Teresa e o Aquário, vencedora do 8º Prêmio Habitasul de Montagem Cênica (para acessar o blog da peça, clique aqui). Ou melhor, foi Teresa, o Aquário e a disposição da Cia Espaço em Branco de explorar os limites da encenação. Os trabalhos anteriores do diretor João de Ricardo _ Extinção (2005) e Andy/Edie (2006) _ já sinalizavam elementos que ele explorou radicalmente ao longo das duas horas de Teresa...., principalmente, o uso de projeções em cena para multiplicar os pontos de vista da cena e permitir que o espectador tenha acesso a detalhes.

A partir do conto Teresa ainda Olhava para o Aquário, de Luciano Mattuella, João e seu grupo montaram uma história de Romeu e Julieta contemporânea, lisérgica e multimídia. O enredo básico: homem encontra mulher, os dois pensam que descobriram suas almas gêmeas, o par enfrenta o desgaste do dia-a-dia. O fardo de viver termina em "morte": Teresa mergulha no aquário e no sonho, seu companheiro fica paralisado por suas memórias. No final, quem diria, o amor triunfa. De alguma forma, os dois voltam para a água, para o útero, para o que é móvel e consegue mudar de forma.

Para representar isso, João esqueceu o que é o teatro tradicional. As conhecidas varas de luz sobre o palco tomaram a forma de spots no palco e de varas coloridas, portáteis e fluorescentes. Cenário: nem pensar, só imaginar. O som, criado em tempo real ao trompete, escaleta e maquininhas eletrônicas por Roger Canal, era feito às vistas do público. O próprio João estava em cena, manejando a câmera. Ao contrários do delírio verbal de Extinção e de Andie/Edie, as falas em Teresa e o Aquário são bem mais rarefeitas e agudamente confessionais, como se fossem pequenos blocos de memória boiando e se chocando no pequeno espaço de um... aquário.

Nas palavras do próprio João, Teresa e o Aquário é uma peça esburacada, que convida (ou desafia) o espectador a preencher as sugestões visuais e sonoras com sua própria bagagem. Ou seja: típico espetáculo que será amado por alguns e odiado por outros. Mas dá gosto e orgulho ver a coragem da Cia Teatro em Branco ao descartar fórmulas teatrais consagradas para contar sua história. Assumindo o risco, o grupo partiu da história para construir uma fórmula original, alheio a caminhos mais fáceis para o público e para o elenco. O espetáculo volta a cartaz em março, no Bar Ocidente, e em abril, na Sala Álvaro Moreyra.

Perfil

Organizado pelo editor de Teatro de Zero Hora, Renato Mendonça, este espaço reúne críticas, opiniões de artistas, vídeos e ensaios fotográficos relacionados às artes cênicas.

Para falar com o blogueiro:

renato.mendonca@zerohora.com.br

Para conhecer o blogueiro:

www.renatomendonca.com

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O Edu, grande amigo escreveu no seu blogue

Segunda-feira, 22 de Dezembro de 2008

TERESA E O AQUÁRIO


Fico me perguntando quem sou pra discutir teatro? Acho que ninguém, mas mesmo assim certas coisas não podem ser deixadas passar em branco e tenho que então usar de minhas vivências para poder me expressar.

Em agosto comentei aqui sobre um workshop que participei. Essa experiências, junto de muitas outras resultou no espetáculo Teresa e o Aquário, que teve pré-estréia no último sábado, 20 de Dezembro, no Teatro São Pedro em Porto Alegre.

A peça marca mudanças significativas no trabalho da Cia. Espaço em Branco, que anteriormente abordou os valores da POP-ART em Andy/Edie. Dessa vez a Cia. experimenta uma dramaturgia própria através de um processo de concepção que durou meses e só foi finalizado lá, em cima do palco.

Lisando Belotto e Sissi Venturin que em Andy/Edie interpretaram o casal Bob Dylan e Edie Segwick dessa vez fazem um mergulho profundo na relação homem/mulher. O encenador João de Ricardo pela primeira vez realiza um espetáculo inteiro sobre o AMOR, mas foge das conveniências, o que fez com que uma parcela incomodada da platéia debandasse antes do final arrebatador.

Tudo é abordado de uma forma abstrata que junta os atores em cena as projeções lúdicas capitaneadas pelo cineasta e fotógrafo Bruno Gularte Barreto. A beleza das cenas que também conta com luzes fluorescentes são imagens um tanto indescritíveis. O aquário de Teresa germina, floresce, entristece e interage diretamente com a platéia que passa pelos diversos estágios do amor, do desejo à loucura.

A melhor coisa da Arte é quando ela te convida para compartilhar experiências e conhecer novas linguagens, quando ela perturba e te faz refletir. Muito sucesso e merda para a Cia Espaço em Branco que já tem duas temporadas de Teresa agendadas para o ano que vem, no Espaço Ox e na Sala Alvaro Moreyra.

Quem sou eu?

Minha foto
Eduardo Iribarrem
Meu nome é Eduardo, tenho 20 e poucos anos, moro no RS. Sou feliz por viver na era da informação. Entre as minhas coisas preferidas no mundo estão música, cinema e internet. É isso tudo, e um pouco mais que pretendo reunir aqui no Blog. Fora isso estudo Jornalismo e sou DJ. Se por acaso alguém achar que vale a pena descobrir mais, aí vai o MSN, eduardo417@hotmail.com
http://unascositasmas.blogspot.com/

domingo, dezembro 21, 2008

Mais uma crítica, agradecido amigo!

Felipe V. disse...

Fui ver Teresa e o Aquário e sai mal do teatro. E ao mesmo tempo muito feliz. A impressão que eu tive é que estava diante de algo realmente novo, não novo no mundo da arte (o espetáculo é uma explosão de referências maravilhosas), mas novo aos olhares de Porto Alegre. O público, atônito em muitos momentos, saia do Teatro São Pedro a cada nova cacetada dada pelo espetáculo. A platéia foi ficando cada vez mais vazia, e o espetáculo ficando cada vez mais perturbador. E lindo! Teresa e o Aquário foi uma epopéia imagética, uma profusão pictórica de vísceras e água, algo difícil de engolir, quase impossível de digerir e que ficará na minha cabeça por muito tempo. Talvez seja um dos trabalhos que melhor define a expressão de uma amiga minha, a Mary: contemplar é um ato violento. Ousadia e beleza caminhando de mãos dadas é uma das melhores coisas que podem acontecer numa obra de arte. Lisandro, a cena em que enfrentas o trânsito é espetacular. Sissi, passei metade da peça de boca aberta. Tu simplesmente destrói. Aquela cena da vaca é um absurdo de impressionante, to pensando até agora naquilo! A luz está linda, a trilha ao vivo é incrível, os vídeos são mágicos, a direção é sensível, precisa e inteligente. Enfim, não tenho muito o que dizer senão dar os meus mais sinceros parabéns a Cia. Espaço Em Branco!


Felipe Vieira de Galisteo

  • Idade: 26
  • Sexo: Masculino
  • Signo astrológico: Áries
  • Ano do zodíaco: Cachorro
  • Atividade: Artes
http://teatrosarcaustico.blogspot.com/

ESTREAMOS!!! Uma primeira crítica:

Teresa e o Aquário


Contemplar-se

“Entra Jasão e dirige-se à Medéia (...)

MEDÉIA

Maior dos cínicos! (É a pior injúria que minha língua tem para estigmatizar a tua covardia!) Estás aqui, apontas-me, tu,meu inimigo mortal? Não é bravura, nem ousadia, olhar de frente os ex-amigos depois de os reduzir a nada! O vício máximo dos homens é o cinismo. Mas, pensando bem, é preferível ver-te aqui; abrandarei meu coração retribuindo teus insultos e sofrerás ouvindo-me. (...) Tratado assim por nós, homem mais vil de todos, tu me traíste e já subiste em leito novo! (...) Ah! Esta mão direita e estes meus joelhos que tantas vezes seguraste! Ah! Foi em vão que tantas vezes me abraçaste, miserável! Como fui enganada em minhas esperanças!... (...)

Não quero uma felicidade tão penosa, nem opulência que me esmague o coração!”

EURÍPIDES. Medéia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, (s.d.). P. 36 – 41.

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Há um aquário que, um dia, fica vazio porque a água toda escorre pela casa como também o amor escorre por todo o mundo quando estamos apaixonados. Há um peixe dentro do aquário que está vazio porque a água, assim como o amor, foi embora. O peixe não se convence da morte e luta contra ela. Então, encosta sua cabeça no fundo tentando respirar até que não se lembra mais de nada.

Tereza estava com cabeça no fundo do seu aquário quando Ele voltou. Ele, seu ex-marido que se foi, que não a valorizou, que partiu, que sumiu a inundar o mundo. Ele volta. Chama por ela uma vez. Quer falar. Chama outra. E outra. E outra. Ela resiste. Os dois brigam. O amor, como água se foi. Que ele também se vá.

Tereza veste um vestido branco sem nada além de branco como também é o chão. Ele veste uma calça preta sem nada cobrindo o peito. Os dois estão descalços. A luz é geral. O aquário é um balde comum cheio de água comum. Nem uma única palavra é dita.

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Eurípides escreveu Medéia em 431 a. C. João de Ricardo pré-estreou “Tereza e o Aquário” ontem. Um marido que se vai. Uma mulher que fica. Um rancor que se guarda.

O que há entre João de Ricardo e Eurípides é 2.439 anos de diferença. O que há entre nós e João de Ricardo é um caminho incerto entre o que fazemos e sentimos e o que percebemos que fazemos e o que percebemos que sentimos. Porque qualquer um pode montar Medéia hoje, mas não é qualquer um que representar a si mesmo, a sua geração, o nosso conflito. Não é da relação homem e mulher que falamos ao citar Medéia. Tampouco ao enaltecer os valores de Tereza e o Aquário, produção da Espaço em Branco. Mas é porque o cinqüentão Eurípides contou a sua versão e utilizou o seu tempo para contar a história que queria. Hoje lemos a tragédia e sentimos o século IV antes de Cristo. Agora, assistimos a “Tereza” e nos sentimos como parte de uma história no quase verão de 2008-2009. João de Ricardo, trintão, nos deixa sentir o nosso próprio tempo. Somos no palco.

Não temos regras e as que há não incidem sobre nossas decisões como outrora aconteceu com nossos pais. Os atores não definem um fim ou um início. Sissi Venturin come bergomotas (?) e Lisandro Bellotto faz nós em gravatas. Nem sempre sabemos o que dizer, nos debatemos como loucos em busca do quê e de que formas se expressar. Tereza se joga no chão, baila sobre a atriz que a interpreta. E a liberdade conquistada antes de nós nos deixa sem ideologia, imersos sobre luzes coloridas e bichos pequenos vistos como se fossem grandes. Nossos celulares tocam até mesmo quando estamos fazendo cocô, personagens de uma tragédia grega, dispostos conforme nos pedem os deuses sem que saibamos bem quais, quem e quantos são eles. Nossa visão não é/está nítida porque estamos no fundo do mar e olhamos com olhos de mergulhadores para a realidade que nos envolta.

Duas horas de um espetáculo que nos coloca como Tereza a olhar o seu aquário e ver-se no lugar do peixe. Poderia ser uma hora e meia, houvesse menos projeção e mantida a atuação no valor que já tem. Afinal, o sublime do espetáculo está nas sementes e não na árvore inteira que cresce na medida em que a água dos aquários sai.

O onírico está em contemplar-se com interesse e emoção. Palmas!

Rodrigo Monteiro

Licenciado em Letras - Português/Inglês pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos.Bacharel em Comunicação Social - Habilitação Realização Audiovisual pela mesma universidade. E mestrando em Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
http://teatropoa.blogspot.com/

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Teresa e o Aquário estréia!


Convido a todos os amigos para a estreia do mais novo espetáculo da Cia. Espaço em BRANCO dirijido por mim. Dia 20, 20h no Theatro São PEdro. A Entrada é FRANCA!