sexta-feira, setembro 19, 2008

Casulo N. 7



Esse casulo foi feio durante o FEIA. Festival de Artes do Instituto e Artes da UNICAMP. Em 17 de setembro, durante o pôr do sol.
fotos by flavio rabelo e isabella santana - edição das imagens joão de ricardo powered by photoshop.

TASK:
O performer conversa com os transeuntes e pede para que eles leiam um texto (esse que vem a seguir) num gravador manual. k-7.
o performer depois de coletar diversas leituras, depos de ter ffeito contato com várias pessoas vai até um gerador de energia.
cola sua roupas com durex nesse gerador
enrola-se em um plástico
deitado, rebobina a fita do gravador e ouve os depoimentos-ficções.

1

espero poder estar morando em algum lugar ano que vem

espero tenho esperança

é sempre uma pressão

a vida é uma pressão constante


os zen falam estamos sempre perdendo somos temporais

como encontrar equilíbrio nisso

no instante furacão?


2


I want to send you the file ''Our Hell.mp3'' (5,87M bytes). It will be saved in directory C:/Arquivos de programas/aMSN/scripts/amsn_received. Do you want to receive this file? - (Accept / Save as / Reject) File transfer accepted


que gostoso esse flow

td bem robozinho?

sim estou bem e usted?

eu tmbm acho que to bem só penso no meu trabalho tento investir nele como forma de...até de possibilidade de existência sublimação total

eh bom

sei lá é é é é é bom

é é bom é é bom sei lá é é bom

vou me enrolar em plástico amanhã

amanhã será hoje será agora amanhã será ontem será anteontem amanhã amanhã sera hoje amanhã

será o ontem de hoje amanhã

será agora foi ontem é agora será amanhã

amanhã é hoje ontem

vou ter um gravador como esse veja bem

veja bem eu deitado aqui ontem ou era hoje?

eu deitad o aqui hoje.

vou pegar conversas como esta confissões vou gravá-las e ouvi-las

em público num entardecer

mais textos vou mandar isso em vídeo em foto pra todo mundo, quero trabalhar e ano que vem não to com perspectivas muito concretas além de ter que escrever meu texto - reflexão sobre esse próprio trabalho que está acontecendo aqui e ganhar dinheiro uma bolsa que to tentando funarte com um texto que estou escrevendo desde 2006 e um concurso público !!!

concurso público dinheiro tudo custa dinheiro minha existência está diretamente relacionada a minha capacidade ou não de ganhar dinheiro


vc tem mais planos que eu


vc tem o seu emprego não? e seus clientes. Vc tem sua existência garantida por um fluxo de dinheiro

simmas não sei aonde vou estar ano que vem

no ano que vem no ano que vem

as vz eu acho que tu te sente um freak como eu me sinto mas não é só isso sei lá to me autoprojetando

eu me sinto um freak muitas vezes

vem vem é tudo um blur

eu também eu

eu ano que vem como eu

o que fazer ano que vem o que fazer agora? o que eu fiz até ontem?

é tudo um blur BLURRR

isso é tudo um blur meu futuro é um blur


ontem fui num buteco

me deram 29 anos eu tenho 21 anos

eu tenho 30 anos me deram 21 anos

eu tenho barba branca e já to ficando careca

eu já namorei duas vezes e meia eu já achei que amei muito mais que duas vezes e meia mas eu jamais vou conseguir definir quando estou ou não amando

é só um buraco físico, um ardor, uma idéia repetida mil vezes uma idéia repetida mil vezes eu não quero nenhum tipo de relacionamento eu sou uma pessoa fria eu sou uma pessoa uma pessoa que não sabe pra onde ir mas continua indo

eu tenho 21 anos eu não sei lidar com o amor eu não se lidar com as responsabilidades eu faço as coisas como eu robô eu faço tudo automático eu só preciso assegurar minha existência ganhando dinheiro amando dando oi pros meus amigos


tu ta pegando tudo pra ti

divide com as pessoas

refresh your heart


tenho que achar ele o eu

vou sublimar o robozinho do mágico de oz

sublimar

o pequeno cadáver de lata


as vz eu acho que tu te sente um freak como eu e sinto

mas não é só isso sei lá to me autoprojetando

eu me sinto um freak muitas vezes eu também me sinto

mas aí penso...por que??? eu q devo estar errado..os outros q estão

eu nem sei o que penso to em blur total:

só tenho tarefas a serem cumpridas

além disso tentar ser alguém

cadáver de lata

vou me enrolar em plástico


já estou enrolado até o coração das células até o nascedouro das idéias

tudo o que visto, sinto, minha conta no banco , meus deveres a cumprir meus medos

adensando a complexidade da minha vida


fui tirar dinheiro para comprar comida pouco dinheiro pois eu como no bandejão, pra economizar eu tenho algum dinheiro guardado pra economizar a conta estava vazia

tinham limpado minha conta

me clonaram

me deletaram no msn

me clonaram e rasparam minha conta

apagaram meu histórico me deletaram me clonaram

mas eu não acho complexo...é tudo simples, simples e complexo

é difícil pra mim até organizar meus textos as coisas mais corriqueiras o que fazer a cada dia

encarar cada dia ser encarado pelos dias organizar as mínimas coisas e tudo mais a grandiosa complexidade da banalidades de cada tarefa que me ocupa e me define

dramin faz dormir e não precisa de receita preta

eu já tomei muito remédio de tarja preta

eu pareço estar em tempos e lugares diferentes, ao mesmo tempo

eu sou um robô um cadáver um homem até onde?


(pausalonga)


2


eu tenho vergonha de me olhar olhar meus próprios vícios de linguagem

eu me vejo aqui deitado no chão como um corpo achado num parque como uma dessas imagens fetiche que ja vi tantas vezes nas tela frias. olhando pras telas frias e seus corpos cobertos de plástico. o gravador na mão. memória de warhol. na memória como espaço físico a ser preenchido como dimensão temporal e física como ação e ritual como incorporação da memória como subjetivação

O aparecimento de um súbito "de" entre as palavras que compõe o meu nome.

que por sinal é feito da mesma matéria do nome dos meus avós:o materno joão e o paterno ricardo. brasileiros ele trabalhou como secretário e entre cadernos calculadoras e canetas e telefones escrevendo coisas organizando papeis atendendo telefones telefones celulares vendo televisão ouvindo rádio jogando videogame com a gente fazendo gente sendo gente entre as pessoas meu avô ricardo na zona rural de portoalegre pequeno comerciante a casa com a bisavó um terreno cheio de memória e cantos escondidos armários pesados de madeira uma gaiola onde o charque seca onde as uvas não são tão doces quanto as do super mercado mas é bonito vê-las uma casa de madeira e uma velha quase espectral a horta tudo verde e húmido tinha que passar o parreiral o armário antigo o cheio da casa dela o elefantinho de molho de tomate pendurado na porta do guarda roupa

as figuras que aparecem nas portas dos ármários de madeira, nos forros do teto nos mofos da parede

as caras de gentes

atendendo ao outro ao patrão e as pessoas que chegavam no armazém ou nos escritórios na antiga madeireira depois de ter fechado ele, ter alugado o ponto, trabalhado pro meu pai no escritório em vários escritórios servindo os patrões os filhos os netos às pessoas que chegam no balcão tomando cerveja nos fins de semana dos filhos dessa gente sou filhos deles dos meus pais dos meus avós desses homems que estavam sempre entre outros homens todo mundo num tecido só pessoas na frente de pessoas entre pessoas dormindo namorando brigando traindo tendo ciúme roubando sendo roubado a cada instante desaparecendo no furacão do instante.


o que tu pensa em fazer? o que ta rolando????


(pausa)


3


unidos pelos sentidos pela presença física de nossos corpos.

esse aparecimento deu-se quando pesquisei meu prórpio nome do google

longe de qualquer afetividade, só pela natureza fria da tela, de alguém que nasceu e cresceu frente uma enorme de tela fria, e parentes, e amigos, e comunidade, colegas, pessoas e máquinas,e as páginas misteriosas e terríveis curiosas sempre dos livros dos olhos pintados de vermelho nos livros nas histórias que eu lia via me sujava todo de poeira de imaginação de perder o fôlego de ter insônia de não querer jamais sair da cama.

eu só consigo pensar em afirmar a materialidade dessas coisas tão banais e preciosas

gravando elas, dando meu corpo pra elas, enrolado num plástico, esse sou eu

caído, enrolado, vivo, vestido morto pelado aqui e a muito tempo atrás,

nós nem nos conhecíamos nossas almas eram anjos era memórias virgens não nascidas turbilhonamentos abstratos

nunca imaginaríamos que estamos aqui. frente um do outro.

por eu ser um veterano do atari (eu me dei um playstation 2 esse ano, vou carregá-lo nas costas como um bebezinho mimado eu tenho uma gata também, não sei como carregá-la, uma gata que já foi rejeitado por dois, será por mais um e assim subsequentemente. alguém quer adotar uma gatinha?)

e meu velho computador de mesa que comprei com o grana que juntei em minha permanência em portugal, trabalhando sempre, por ae, sempre indo sem saber para onde ir mais indo

minha falcon milenium (pausa) suja, suja!


por sermos tão profundamente banais. por as vezes querer entrar com o carro no poste mesmo parado. Por eu querer entrar com meu carro em um porte em alta velocidade em dirigir rápido até o abismo mesmo sem nunca ter aprendido a dirigir andando sempre eu me enrolo aqui reivindico mina materialidade primeira


(pausa)


4


no momento estou montando a programação de um site, depois tenho q finalizar outras coisas de outros projetos q estão abertos...no final de semana devo ir até minha cidade pois meus pais farão 25 anos de casados semana que vem e vou levar eles e minhas irmãs pra jantar eu pretendo trazer o vídeo-game que meu pai comprou pra ele aqui pra casa...nintendo wii divertidissimo

tu sabe da sedução das máqunas me sinto atraído por ti vamos ser namorados vamos jogar videoagame juntos

eu sou um veterano do atari até meu avô joga videogame

nós seguramos juntos no joystick JOYY JOYYYY joyyy joyyyyyy


5


eu estou negociando


o aparecimento súbito de um "de" entre o meu nome, nova composição do meu nome, foi feita pra que ao me procurarem no google não achassem o guitarrista dos secos e molhados antes de mim.

pela imaterialidade do meu trabalho pela presença mesmo que virtual, simbólica, avatar incorporado na rede dentro e fora irmão e duplo das telas frias dos olhos

pela medo do grau de intimidade do meu trabalho, publico e privado

pra ser achado para criar canais de comunicação por invenção

pela imaterialidade do meu trabalho eu reclamo minha própria existência física como atualização de memória como identidade pessoal materialidade como possibilidade de construção do passado do futuro do eterno atual

meu nome é joão "de "ricardo. eu nasci em 1977. a ditadura aproximava-se do seu esgar e eu na frente da telinha, comendo do colher que minha mãe me levva a boca, um velho vestindo verde oliva,de ray-ban na televisão

eu sou artista quando não estou em pânico ou simplesmente catatônico quando eu não sou um artista

eu nasci faz 30 anos sou um corpo jogado num mato,enrolado num plástico segurando um gravador se ouvindo em silêncio. alguém.


6


meu coração sapateando

o meu tmbm

meu deus todos os meus amigos estão aoux borde du nerves

arquétipo e cafonice

ENTRE O CEU E O INFERNO DA MAGIA

só de noite

o cara que pisoteia meu coração me chama de baby e depois não fala mais comigo

todos meus amigos em pane

homens

PANE

TILT NO CORAÇÃO

TILT NA MENTE

eu tento entender, ele parece facilitar e depois volta atrás

homens

sentir pensando

isso me deixa cos corno virado

isso me deixa com os cornos virados

num sei se sou

só tenho a mim mesmo a imaterialidade do meu trabalho

eu só tenho a mim mesma

passei por uma depre trashissima de duas semanas

fiquei dias sem comer e tomei tragos que achei que fosse morrer

amanhã vou me enrolar em plástico num grande plástico semi fosco com um gravador na mão provavelmente nú e vou ficar deitado no mato ouvindo muitas confissões trechos de conversas raciocínios vagos

mas acho que ter enfrentado o monstro e não só medicado ele me libertou um pouco

eu tmbm fique podre semana passada tomei porres

o gordo em porto alegre tomou um caixa de remédio pra dormir

tem no meu msn semi conhecido internado em hospital por depressão

tilt na alma

vou ter que me desfazer de tudo o que construí assim de material nesses dois anos aqui

voltar

tilt no coração

ir pra outro lugar

mais mudança

to me abrindo pro que der e vier

dependo de muitas coisas muito vagas blurs

blur na mente

tilt no coração

o mundo em total eclipse

não sei mais o que faço além de tudo que faço

trabalho

vamos ouvir blur

end of the century

fui até o atendimento psiquiátrico da universidade sentei na frente da senhora eu rpecisava conversar ela prontamente me chamou de perverso, mórbido e que eu não sei se eu sou um garoto ou um homem, e que a vida é dura e eu concordei apesar e achar a técnica redutiva e não percebendo tudo mais

de usar bermuda e tenisinho assim da moda (da moda...) e jaqueta de homem

mas eu me criei fazendo dos limões minhas limonadas

ela me chamou de perverso de mórbido e eu ali, sentado com todos os meus segundos de vida

olhando pra cara dela, bem triste por dentro

sendo duro olhando na pupila

pensei nos meus trinta anos. Memória e imaginação.


Um comentário:

Unknown disse...

Nossaa muito bom, meio complexo.
Agoraa estou sabendo um pouco mais de sua vida.

;*