sexta-feira, agosto 29, 2008
casulo N. 5: escombros POP
quinta-feira, agosto 28, 2008
Do Caderno Descarnado
no meu
nessas perguntas tão caras
caderno-tela onde adensam-se os fluxos
duplicam-se imagens à deriva
e me encontro em meditação ativa
enchendo de material a idéia
pegando no ar qualquer faísca
despetalando
despetalando-me:
scaneado
plastificado
vitrificado
pele de prata
reflexiva
(as vz me dá medo de estar tão vivo)
scans do caderno do artista
canetão e grafite sobre papel pautado
photoshop
domingo, agosto 24, 2008
DOUBLEME1
Ações performáticas a serem apresentadas no FEIA 9 (Festival do Instituto de Artes da Unicamp), pelos integrantes do coletivo Arquipélago, Flávio Rabelo, Isabella Santana e João de Ricardo, dia 14 de setembro 2008, a partir das 19:00 hs, na sala Ac03 do departamento de Cênicas da Unicamp. “doubleME1” se caracteriza pela realização de ações performáticas, estendidas no espaço-tempo. Retoma em sua poética o mito de Narciso, refletindo fenômenos atuais que este tem assumido em nossa contemporaneidade, evidenciando assim, o excesso de preocupação com a construção daquilo que não somos. Por sua vez, a discussão em voga sobre a morte do sujeito vem revelar que o rosto do Outro é, antes e, sobretudo, uma superfície cheia de furos.
quinta-feira, agosto 14, 2008
(in)tolerância
(in)tolerância:
O leite percorre as culturas associado a fertilidade, o conhecimento e a imortalidade. É o primeiro alimento e primeira bebida, contém em si potencialmente todos as formas de nutrição do ser humano, pois ele é também semente, sêmem. O leite aparece também como canal de transmissão de conhecimento e elevação espirituais. Basta lembrarmos que Heracles mama diretamente do seio da divindade, de Hera, para ser imortal. Assim torna-se filho e continuidade do ser divino. Assim como São Bernardo é amamentado pela virgem, tornando-se irmão adotivo de Cristo. O leite é ofertado nas libações, é canal iniciático, através dele o homem conecta-se com outros planos, Maomé teria declarado que "sonhar com leite é sonhar com a ciência ou o conhecimento".
Marcus Vinícius arquiteta seu ritual eletrônico de iniciação. O arcaísmo do elemento leite, do seu corpo nu, da idéia de ritual cria um agenciamento interessantíssimo com a frieza do meio digital, o olho frio da câmera. Esse olho eletrônico o enquadra de forma ambígua. Não vemos seus olhos, sua identidade está redimensiona: nesse vídeo, ele é corpo que se insinua nu, temos o pedaço pelo todo. Mas é o pedaço que parece nos interessar. A imagem desestrutura nossa noção de homem e sua complexidade e ali, na quadradinho seletivo da câmera Marcus torna-se é um tórax. Um sistema digestivo sugerido, que se impõe um sacrifício, beber um simples copo de leite. No caso dele, a simplicidade do ato de beber torna-se complexa pois Marcus sofre de uma alergia que faz o leite ser extremamente repugnante ao paladar. Logo temos um duplo sacrifício, o do ato em si de beber algo que maltrata e o de oferecer a sua imagem ao outro. O Vídeo – performance torna-se rito iniciático em tempos de internet. Para sua modificação interior, para a sua epifania artística, Marcus constrói essa máquina ritual com sua própria carne. Um corpo que se auto flagela para o horror e o de(leite) dos espectadores.
A performance art sempre está associada ao ato de transformar-se objetivamente. (In) tolerância é uma ação presencial em várias camadas, profundamente performática: da decisão de mostrar-se, a ação de beber o leite em si as escolhas de enquadramento, edição e até sua veiculação pelo youtube atestam a contemporaneidade do artista que não admite mais o espaço - tempo compartilhados entre artista-público como fundamentais para a arte performática. A ambigüidade torna-se assim também elemento chave do trabalho. Esse vídeo torna-se também irmão de vários outro vídeos da internet, vídeos eróticos caseiros, vídeos fetichistas, os míticos snuff-movies onde pessoas encenam ou realmente são submetidas a torturas e morte, e ainda os vídeos terroristas que mostram pessoas em situação de cativeiro, vídeos que vemos e produzimos todos os dias. Sua ação é audiovisual, sua presença é também recodificada por esse ritual digital. Marcus tona-se informação e navega livre, como um spam estético que após o upload seminal se lança ao infinito, corre mundo e adensa-se ainda fresco e indigesto na frente de quem optar por vê-lo.
João de Ricardo
Artista – Pesquisador
Campinas, agosto de 2008