Lisandro Bellotto e Sissi Venturin em "Teresa e o Aquário",
foto de Marcos Nagelstein
Mergulho na memória
Foi um sábado de surpresas no Theatro São Pedro. A primeira delas, desagradável, foi o atraso de mais de uma hora na apresentação da montagem Teresa e o Aquário, algo inédito para os padrões de pontualidade da casa comandada por Eva Sopher. A razão foi um desfile de modas que precedia a peça.
A segunda surpresa, agradibilíssima, foi Teresa e o Aquário, vencedora do 8º Prêmio Habitasul de Montagem Cênica (para acessar o blog da peça, clique aqui). Ou melhor, foi Teresa, o Aquário e a disposição da Cia Espaço em Branco de explorar os limites da encenação. Os trabalhos anteriores do diretor João de Ricardo _ Extinção (2005) e Andy/Edie (2006) _ já sinalizavam elementos que ele explorou radicalmente ao longo das duas horas de Teresa...., principalmente, o uso de projeções em cena para multiplicar os pontos de vista da cena e permitir que o espectador tenha acesso a detalhes.
A partir do conto Teresa ainda Olhava para o Aquário, de Luciano Mattuella, João e seu grupo montaram uma história de Romeu e Julieta contemporânea, lisérgica e multimídia. O enredo básico: homem encontra mulher, os dois pensam que descobriram suas almas gêmeas, o par enfrenta o desgaste do dia-a-dia. O fardo de viver termina em "morte": Teresa mergulha no aquário e no sonho, seu companheiro fica paralisado por suas memórias. No final, quem diria, o amor triunfa. De alguma forma, os dois voltam para a água, para o útero, para o que é móvel e consegue mudar de forma.
Para representar isso, João esqueceu o que é o teatro tradicional. As conhecidas varas de luz sobre o palco tomaram a forma de spots no palco e de varas coloridas, portáteis e fluorescentes. Cenário: nem pensar, só imaginar. O som, criado em tempo real ao trompete, escaleta e maquininhas eletrônicas por Roger Canal, era feito às vistas do público. O próprio João estava em cena, manejando a câmera. Ao contrários do delírio verbal de Extinção e de Andie/Edie, as falas em Teresa e o Aquário são bem mais rarefeitas e agudamente confessionais, como se fossem pequenos blocos de memória boiando e se chocando no pequeno espaço de um... aquário.
Nas palavras do próprio João, Teresa e o Aquário é uma peça esburacada, que convida (ou desafia) o espectador a preencher as sugestões visuais e sonoras com sua própria bagagem. Ou seja: típico espetáculo que será amado por alguns e odiado por outros. Mas dá gosto e orgulho ver a coragem da Cia Teatro em Branco ao descartar fórmulas teatrais consagradas para contar sua história. Assumindo o risco, o grupo partiu da história para construir uma fórmula original, alheio a caminhos mais fáceis para o público e para o elenco. O espetáculo volta a cartaz em março, no Bar Ocidente, e em abril, na Sala Álvaro Moreyra.
foto de Marcos Nagelstein
Mergulho na memória
Foi um sábado de surpresas no Theatro São Pedro. A primeira delas, desagradável, foi o atraso de mais de uma hora na apresentação da montagem Teresa e o Aquário, algo inédito para os padrões de pontualidade da casa comandada por Eva Sopher. A razão foi um desfile de modas que precedia a peça.
A segunda surpresa, agradibilíssima, foi Teresa e o Aquário, vencedora do 8º Prêmio Habitasul de Montagem Cênica (para acessar o blog da peça, clique aqui). Ou melhor, foi Teresa, o Aquário e a disposição da Cia Espaço em Branco de explorar os limites da encenação. Os trabalhos anteriores do diretor João de Ricardo _ Extinção (2005) e Andy/Edie (2006) _ já sinalizavam elementos que ele explorou radicalmente ao longo das duas horas de Teresa...., principalmente, o uso de projeções em cena para multiplicar os pontos de vista da cena e permitir que o espectador tenha acesso a detalhes.
A partir do conto Teresa ainda Olhava para o Aquário, de Luciano Mattuella, João e seu grupo montaram uma história de Romeu e Julieta contemporânea, lisérgica e multimídia. O enredo básico: homem encontra mulher, os dois pensam que descobriram suas almas gêmeas, o par enfrenta o desgaste do dia-a-dia. O fardo de viver termina em "morte": Teresa mergulha no aquário e no sonho, seu companheiro fica paralisado por suas memórias. No final, quem diria, o amor triunfa. De alguma forma, os dois voltam para a água, para o útero, para o que é móvel e consegue mudar de forma.
Para representar isso, João esqueceu o que é o teatro tradicional. As conhecidas varas de luz sobre o palco tomaram a forma de spots no palco e de varas coloridas, portáteis e fluorescentes. Cenário: nem pensar, só imaginar. O som, criado em tempo real ao trompete, escaleta e maquininhas eletrônicas por Roger Canal, era feito às vistas do público. O próprio João estava em cena, manejando a câmera. Ao contrários do delírio verbal de Extinção e de Andie/Edie, as falas em Teresa e o Aquário são bem mais rarefeitas e agudamente confessionais, como se fossem pequenos blocos de memória boiando e se chocando no pequeno espaço de um... aquário.
Nas palavras do próprio João, Teresa e o Aquário é uma peça esburacada, que convida (ou desafia) o espectador a preencher as sugestões visuais e sonoras com sua própria bagagem. Ou seja: típico espetáculo que será amado por alguns e odiado por outros. Mas dá gosto e orgulho ver a coragem da Cia Teatro em Branco ao descartar fórmulas teatrais consagradas para contar sua história. Assumindo o risco, o grupo partiu da história para construir uma fórmula original, alheio a caminhos mais fáceis para o público e para o elenco. O espetáculo volta a cartaz em março, no Bar Ocidente, e em abril, na Sala Álvaro Moreyra.
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