sexta-feira, agosto 31, 2007

Ser selvagem

Foi no "Bar da Coxinha", depois de muita conversa sobre arte e essas coisas que nos entopem as veias da alma, que a Ariana falau de cabeça um fragmentozinho de "A Passagem das Horas" do Fernando Pessoa.
Confesso que na hora aquilo me bateu super profundamente pois me sinto um pouco assim, depois de 12 anos de estrada na arte do teatro e na arte em geral, me sinto perdido, fazendo meu pré projeto de mestrado sem ao menos saber o por que de eu ter cehagdo até aqui, desse invetimento todo, num environment de capitalismo tardio brazuca que clama por produtos e onde o cidadão trasformou-se em consumidor. Trabalhar aqui com conceitos nebulosos, idéias passeantes e a efêmera arte do espetáculo que , vamos ser sinceros, tá longe do entrar na máquina do mainstream, só aumentam minha perplexidade. Que futuro aguarda o "fazedor de teatro" em menção a bela peça de Thomas Bernhard? O sedutor devir de outras formas de mediocridade mais rentáveis estão sempre a espreita. E assim me reaparece Pessoa, no trecho que a garota citou, e eu procurei no google e estava lá, inteirinho e lindo, pra vcs um petisco lusitano melhor que pastel de belém:
A Passagem das Horas, FRAGMENTO:
..."A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,Desta entrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas,Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,Deste desassossego no fundo de todos os cálices,Desta angústia no fundo de todos os prazeres,Desta sociedade antecipada na asa de todas as chávenas,Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.Não sei se sinto de mais ou de menos, não seiSe me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,Consangüinidade com o mistério das coisas, choqueAos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.Seja o que for, era melhor não ter nascido,Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sairPara fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida"...
O grifo obviamente é meu. Entendam como quiserem. Ah pra quem quiser a obra completa do moço da na ineternet. procure no google! =D

Im in love with your brother.

O Bruno Barreto em mandou o link do youtube de uma canção (!!!) já antiguinha de 2003 (!!!) do The Knife. É uma banda sueca formada por dois irmãos: uma garota e um garoto (um gatinho por sinal). O clipe é boníssimo e posso enxergar nele questões interessantes como a do simulacro. Bom não vou ficar aqui escrevendo sobre simulacro, quem tiver curiosidade pode procurar no google "simulacro" e "baudrillard". Faz bem pra cabecinha. Mas enfim, vender gato por lebre seria algo do tipo. Agora entenda isso quanto uma questão estética recorrente na pós-modernidade.
hohohohoh
ae vai o clipe pra quem quiser ver e se deliciar. Som e imagens bem legais. Cafona e sexy.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Para não passar em BRANCO


Essa entrevista deveria ser publicada na ZH o jornal que comanda Porto Alegre, da RBS, claro...Globo vc já sabem bem quem são essas pessoas. Mas como todos sabemos, ao mainstream o que é do maisntream. Ou seja, entrevista feita e nada de espaço para publicação no jornal, isso que ela foi realizada por um peso pesado do jornalismo cultural portoalegrense o Renato Mendonça. Ae ele publicou no blogue dele http://www.renatomendonca.com/blog.php , legal! A entrevsita está massa e agradeço ao Renato pelo interesse.

Esse tipo de coisa só colabora para a minha visão azeda quanto a pátria das bombachas. Por mais que Porto Alegre se esforce, o peso da pretensão, da classe média culturalmente fetichista por obras já canonizadas e de uma visão muito curtinha da amplitude e complexidade do fazer artítico, geram incontáveis anomalias. Prêmios não pagos, espaços na mídia para os de sempre, clássicos sempre revisitados e essas coisas que gaúcho adora: chimarrão e concertos comunitários Zaffari. auhuhauhauha


Ae está a entrevista


OPS: Obrigado Renato

=D


Para não passar em BRANCO:


Jornalismo é um perde-ganha. E o que essa frase não tem de original tem de correta. O espetáculo Andie/Edie, por exemplo, não teve a devida atenção e cobertura que deveria ter tido por uma série de infelizes acasos. E esta atenção poderia estar dirigida a vários focos: a evolução de João Ricardo como diretor, o novo público que a peça trouxe para o teatro, o uso de mídia eletrônica na encenação, o seqüestro que o grupo Cia Espaço em Branco (www.ciabranco.blogspot.com) fez do Arena para denunciar o não-pagamento pelo Estado do Prêmio de Incentivo a Produção de Artes Cênicas (R$ 15 mil, até hoje não pagos). Por enquanto, fiquem com a entrevista que fiz por e-mail com João Ricardo, atualemnte estudando na Unicamp.
A primeira temporada de Andy/Edie levou um público diferenciado ao Teatro de Arena, um público de perfil jovem alternativo. Cheguei a ver espectadores com figurinos na platéia. Além disso, vocês promoviam (e promovem) festas. É uma maneira de atrair um novo público ao teatro? Ou é esse novo público que finalmente reconheceu sua cara no palco?

A Cia espaço em BRANCO tenta fazer um teatro absolutamente fiel aos seus componentes. Nós fazemos festas porque gostamos de festas e estamos sempre em festas. Além do que, tanto as festas quantos os outros eventos que promovemos (shows de bandas como Pink Floyd das Antiga e Filipe Catto ou o encontro POPIMPACTO) ligados a encenação de ANDY/EDIE seguem a lógica do próprio Andy Warhol, que além do seu conhecido trabalho em artes plásticas ainda promovia festas (as legendárias Exploding Plastic), atuava como cineasta, escritor, escultor e produtor de bandas. Claro que isso traz uma maior visibilidade para as ações da Cia. e realmente leva ao teatro um outro público. Muitas pessoas nos disseram que nunca tinham ido ao teatro até ver o Andy, pessoas que nos conheceram nesses eventos, além das pessoas que chegam em nós por vias digitais (a peça tem comunidade no orkut e webpage www.poacultural.com.br/andyedie). Mas também reconheço que poucos grupos de teatro em Porto Alegre pesquisam a relação do teatro com as outras mídias, tv, cinema, videoclipes, artes plásticas, web, etc o que talvez atenda a essa geração que está crescendo em frente as telinhas e que encontra em nossas peças a resposta artística a esses tempos onde já não podemos falar em pureza de linguagem. Definitivamente não somos escravos da linguagem. E não temos pruridos em atacar em vários fronts com o intuído de aumentar a superfície de comunicação com a sociedade, ou com o mundo. A mistura é nossa identidade. E talvez a identidade desse "novo público".

Fala um pouco do episódio esse do não pagamento do prêmio a vocês. A ocupação do Teatro de Arena foi a alternativa que vocês buscaram. Como ficou a situação?

O prêmio conforme o que está escrito no edital deveria ser pago metade quando o espetáculo estivesse em ensaios e a outra metade na estréia. O que dá um montante de quinze mil reais. Ensaiamos quatro meses e depois ficamos 10 semanas em cartaz e nada do pagamento. "Seqüestramos" o teatro de arena e promovemos shows e alongamos a temporada da peça, o que foi bem divulgado na mídia e nada. Nossa tentativa de responder a inação do estado com a nossa ação direta não se mostrou relevante. Na hora de pedir votos eles são os primeiros a sorrir. No nosso material gráfico a insígnia do estado está lá. Mas não recebemos um real sequer. Pagamos a produção do espetáculo com dinheiro do nosso próprio bolso, e além de estarmos obviamente endividados por conta disso, nenhuma artista, dentro e fora de cena recebeu ainda seu cachê. Este deveria ter sido efetuado em junho do ano passado. Um ano depois, governos trocados a enfrentamos a mesma situação. O que nos dizem é que o processo saiu da Secretaria de Cultura e emperrou na fazenda. E como de praxe, lavam as suas e abrem novos editais.Ainda sobre o Arena. A ocupação foi um ato de protesto, mas também de afirmação da importância de um grupo contar com um espaço fixo para pesquisar e encenar. Tens alguma proposta nesse sentido? Que achas da idéia de grupos ficarem residentes em espaços públicos?

Acho que temos que ter espaços flexíveis que respondam a diversidade das produções cênicas. Espaços reservados à pesquisa e espaços reservados as apresentações. No caso do Arena, foi uma sorte poder contar durante meses com o teatro como espaço de ensaio e criação do espetáculo. Tivemos a oportunidade de criar um espetáculo onde cada fragmento se comunica com a especificidade de um teatro de arena. Cenários figurinos movimento, tudo foi concebido no atrito diário da nossa prática de trabalho com o teatro. Isso sem dúvida alguma produz peças com texturas que não seriam conseguidas em um esquema mais tradicional de ensaiar em qualquer lugar e depois adaptar a montagem ao espaço.

Fizeste assistência de direção para Luciano Alabarse em Antígona, um texto clássico, e em Heldenplatz, uma montagem realista. Contigo na direção, Extinção praticava um humor negro e próximo do surreal, enquanto Andy/Edie mergulha no universo pop e coloca câmeras em cena. É uma experimentação proposital?

Não concebo o ato de direção como o ato de "colocar em cena" um texto. Direção para mim é como um "work in progress" infinito, onde os passos desse processo podem ser vistos ao longo das encenações. Tanto nos meus trabalhos que se tornaram mais públicos como Serpente, Extinção e Andy/Edie quanto a trabalhos de vida mais efêmera como O Livro de Catarina e os tantos outros que dirigi em âmbito acadêmico (shopping and fucking, brasas, pretend) mantenho sempre o foco no trabalho do performer. Parto sempre do espaço vazio e do corpo do ator como célula primeira de criação. Todo o resto, palavra, luz som objetos são decorrências do jogo do ator, instrumentos para amplificar a já infinita capacidade do homem em cena de trazer pro visível o invisível. É no corpo do ator que as idéias do texto, as minhas idéias sobre o texto e tudo mais que tiver relação vão encontrar forma. Uma forma que transcende o próprio universo que o texto traz. Pois dou atenção a linguagem em si. Ao contar histórias o teatro também se conta como estrutura dupla da vida, calcada em nascimentos desenvolvimentos e mortes. E é nesse instante que todas as peças que dirijo são uma só. Um grande "work in progress" sobre o homem e sobre o próprio ato de estar em cena.

Extinção e Andy/Edie, cada uma a sua maneira, investia no humor. Numa entrevista para o site PoaCultural (www.poacultural.com.br), dás a entender que o humor facilita a aproximação do público com temas mais pesados ou delicados. É isso?

O ato teatral já é cheio de tragicidade em si. Ele, como a vida, está exposto ao tempo e a finitude. Nós que fazemos teatro temos que fazer um exercício diário de desapego, já que a nossa obra se esvai a cada apresentação. Só isso já gera um peso, mas ai entra a fidelidade. Fidelidade ao aceitar que também rimos e que é o paradoxo que interessa. Trabalhar um gênero em sua pureza pra mim já é um exercício masturbatório, estamos em plena "modernidade líquida" como diz Baumman, qualquer tipo de certeza hoje em dia soa como artificialismo, já que as coisas mudam de forma e conteúdo com uma velocidade jamais vista. Assim, esses temas pesados acabam durante o processo adquirindo outras facetas, como o humor e a ironia o que entra de acordo com o que pensamos. O ser humano é múltiplo demais para nos fecharmos em um caminho só de comunicação. O humor cria pontes incríveis entre a platéia e o palco. O humor aumenta a rede de comunicação (como os elementos plásticos e sonoros da peça) e é isso que queremos: comunicar.Estás em Campinas estudando junto ao grupo Lume, na Unicamp. É um núcleo que privilegia a antropologia teatral e as performances, não? Isso não vem de encontro à linguagem sofisticada que praticaste em Andie/Edie?Fui convidado pelo Renato Ferracine do LUME para participar deste riquíssimo processo de investigação de linguagem chamado: "Território Nômade". Estamos trabalhando dentro da idéia de processo: reunir de forma prática, duas vertentes de trabalho sobre o performer brasileiras: a técnica do LUME relacionada ao teatro e a técnica Klauss Vianna, relacionada mais a dança. Para tanto trabalhamos com um grupo heterogêneo formado por pessoas vindas de uma tradição da dança: a coreógrafa Jussara Miller e as dançarinas Ana Clara Amaral e Carol Laranjeira e ao teatro: eu, o Renato Ferracini, além dos atores Eduardo Albergaria e Evelyn Ligocky (que aliás já trabalhou comigo em EXTINÇÃO). É no corpo dos performers que as técnicas estão se fundindo e nosso olho está atento as possibilidades poéticas que isso traz. Estamos de olho na capacidade do homem em estado cênico criar poesia, desvinculado dos territórios tradicionais das linguagens. E isso tem tudo a ver com os processos da Cia. Espaço em BRANCO. É belíssimo ver cada vez mais criadores no Brasil dando adeus a conceitos enferrujados de autoria e se lançando em processos coletivos onde as diferenças é que dão o tempero. A idéia de nomadismo é prática e não temos idéia de onde ela vai nos levar apesar de já termos estréia prevista para dezembro em São Paulo.

Quais teus planos? Até quando ficas em Campinas? A Cia Espaço em Branco já pensa em alguma nova montagem?

Fico em Campinas provavelmente até a estréia desse novo espetáculo. Quanto a novos trabalhos com a Cia., estamos muito inclinados a começar um trabalho de construção dramatúrgica própria. Mas isso pertence ao futuro.